A palavras em mim, por mim, comigo.

02/09/2022
Ilustração do Livro Cartas que Transbordam

As imagens e os sons nos transfiguram e deixam marcas, que,
indeléveis ou não, trazem cores, gostos e sensações; imprimem o que é do
mundo em nós e o que é nosso no mundo. 
Assim se faz o ser humano: a vida embarca, o copo – entre emoções-
entorna, e, quando não cabemos mais em nós, transbordamos o que nos
preenche. E não é só amor, não é só tristeza, não é só raiva e, muito menos,
só alegria. Todas juntas em surto ou cada qual em seu momento, as reações
lançam mão do recurso que estiver à disposição ali, no agora, e ocupam o
corpo e a alma, na personificação de palavras. É uma dança ritmada.
O processo da escrita é uma estrada, ora íngreme, cheia de curvas, ora
suave, e tudo imprime o frio na barriga, a vontade de frear e, ao mesmo tempo,
colocar a cabeça para fora e sentir o vento no rosto. 
Paradoxal, porque a vontade de que leiam é uma comichão que não
aquieta e também é medo que nos coloca insones. Ou seja, aventura de início
consciente, mas sem data, horário ou lugar para se bastar. É processo, nunca
acaba… ainda bem!

por Glaucia Lopes